El Clásico


El laberinto de la soledad

Octavio Paz (1950)

 Ao ser publicado em 1950, o livro do poeta e ensaísta mexicano Octavio Paz (1914- 1998), “El laberinto de la soledad”, foi acolhido, nas palavras do próprio autor, “Más bien de un modo negativo. Mucha gente se indignó; se pensó que era un libro en contra de México. Un poeta me dijo algo bastante divertido: que yo había escrito una elegante mentada de madre contra los mexicanos”. A obra desnuda valores, crenças, tradições seculares e religiosas, escancara contradições e retira da história e dos indivíduos as máscaras, objeto bastante simbólico e tão caro aos mexicanos. Considerado, posteriormente, uma obra prima da literatura universal e leitura obrigatória sobre uma América Latina analisada muito além de uma perspectiva colonialista, o livro também ultrapassa a reflexão sobre a formação híbrida da cultura mexicana, que mescla traços de povos ancestrais, dos índios nativos e dos colonizadores espanhóis. Temas que perpassam os conflitos da civili- zação ocidental, como identidade, mito, amor, religião, colonização, revolução, modernidade, vida, morte e a solidão do indivíduo, claro, vão sendo apresentados de tal maneira que o leitor de “El laberinto de la soledad” pode ser fortemente afetado pela contemporaneidade presente na obra de Octavio Paz, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, em 1990. Distinguindo a história do México da história do mexicano, Paz constrói uma ideia de mexicanidade de forma não binária e em um profícuo diálogo com obras de outros escritores - Samuel Ramos, José Gaos, Jorge Cuesta, Juan Ruiz de Alarcón, por exemplo - e filósofos que fizeram parte de sua trajetória, como Jean Paul Sartre, Merleau Ponty e, especialmente, Friederich Nietzsche. O livro se organizou, inicialmente, nos capítulos: El pachuco y otros extremos; Máscaras mexicanas; Todos Santos, Día de Muertos; Los hijos de la Malinche; Conquista y Colonia; De la Independencia a la Revolución; e La “inteligência” mexicana; Nuestros días e o Apêndice La dialéctica de la soledad. Após o movimento dos estudantes mexicanos em 1968, que resultou no massacre e desaparecimento de mais de 300 estudantes pelo Exército Federal, na Cidade do México, Paz escreveu o ensaio Postdata (1969), que ele mesmo definiu como “una prolongación crítica y autocrítica; Postdata no solamente por continuarlo y ponerlo al día sino por ser una nueva tentativa por descifrar larealidad”.. O Postdata passou a ser incorporado às edições do “El laberinto de la soledad” e conta com três capítulos: Olimpiada y Tlatelolco; El desarrollo y otros espejismos; e Crítica de la pirámide. No ensaio Olimpiada y Tlatelolco, Paz analisa o contexto em que os movimentos políticos ocorreram em vários países do mundo, no que ele identifica como o “axial ano de 1968”. Além de mostrar que em nenhum outro país houve uma reação tão feroz e violenta dos governos em relação ao movimento estudantil daquele ano, Paz relaciona o massacre de Tlatelolco à própria história dos mexicanos, já tão profunda e largamente abordada no “El laberinto de la soledad”. Octavio Paz, ao publicar o Postdata, não apenas fez um gesto político relevante, como também reafirmou sua crença na democracia e na política. “la democracia, esa palavra que há perdido casi todo su magnetismo em Occidente. Es um sintoma desolador: cualesquiera que sean las limitaciones de la democracia occidental (y son muchas y gravíssimas: régimen burocrático de partidos, monopólios de la información, corrupción, etc.), sin libertad de crítica y sin pluralidade de opiniones y grupos no hay vida política. Y para nosotros, hombres modernos, vida política es sinónimo de vida racional y civilizada”. Diante dessa obra clássica, a pergunta múltipla sobre a identidade

mexicana - “quem, o quê e como somos?” – perseguida por Octavio Paz ao longo do livro, permanece no contexto atual de qualquer leitor, independente de sua nacionalidade ou de onde viva. Afinal, “La soledad, el sentirse y el saberse solo, desprendido del mundo y ajeno a sí mismo, separado de sí, no es característica exclusiva del mexicano. Todos los hombres, en algún momento de su vida, se sienten solos; y más: todos los hombres están solos. Vivir, es separarnos del que fuimos para internarnos en el que vamos a ser, futuro extraño siempre. La soledad es el fondo último de la condición humana. El hombre es el único ser que se siente solo y el único que es busqueda de otro”.

 

Por Raquel Novais