Buchrezensionen 100

Isabela Figueiredo - Roter Staub Mosambik am Ende der Kolonialzeit

Die schockierend direkte und ungeschönte Sprache, mit der Figueiredo die normalisierte Brutalität und die schier kaum zu ertragende Herabwürdigung Schwarzer Menschen zur Kolonialzeit in Mosambik beschreibt, lassen einen stutzen: „Zu dem Zweck gab es stets jede Menge N*, alle zu Beginn faul borniert und unfähig, um Arbeit zu bitten und das zu tun, was man ihnen auftrug ohne den Blick zu heben. (…) Wer an einem beliebigen Morgen ohne Filter, ohne Schutz oder Angriffslust, in die Augen der Schwarzen sah, während sie die nackten Wände der Gebäude der Weißen durchbohrten, der vergisst diese Stille nicht, die vom Hass und schmutzigem Elend, von Ausgeliefertsein und Unterwerfung, von Überleben und Unrat brodelnder Kälte. Es gab keine unschuldigen Blicke.“ Durch den ungefilterten Blick eines Weißen Kindes wird dem*der Leser*in die harsche und brutale Realität der Kolonialzeit in Mosambik vor Augen geführt. Was bedeutet

es für ein Kind, in einem Land aufzuwachsen, dem es sich nicht verbunden fühlen und wie die anderen Kinder im Dreck spielen darf, sondern stattdessen isoliert und im weißen fleckenlosen Spitzenkleid gerade sitzend Zeugin eines nicht zu entschuldigenden grausamen Verbrechens an

einem ganzen Land wird?

Der autobiographische Roman „Roter Staub“ lässt den*die Leser*in bruchstückhaft an der Kindheit von Isabela Figueiredo in Mosambik am Ende der Kolonialzeit teilhaben. Durch eindrucksvolle und persönliche Szenen entsteht ein komplexes Gesamtbild: Es zeigt die vielen Schattierungen

und Nuancen menschlichen Handelns, die aus der Sicht eines Kindes besonders

berühren. Eine zentrale Rolle spielt die ambivalente Beziehung des Kindes zum rassistischen Vater, dem sie dieses Buch widmet. Es entsteht ein komplexes Bild vom geliebten Vater, ihr unumstößlicher Fels in der Brandung, der sie auf Ausflüge im weißen Bedford mitnimmt, Cola spendiert und Hand in Hand mit ihr spazieren geht. Zugleich spürt sie instinktiv, dass das Weltbild, in das sie hineingeboren wurde, und all die Grausamkeiten, die ihr Vater ganz selbstverständlich gegen die Menschen um ihn herum verübt, falsch sind. Dass der Wohlstand der Familie auf Blut, Schweiß und der Unterdrückung Schwarzer Menschen basiert, ist der Protagonistin auf schmerzliche Weise bewusst. Die Zerrissenheit und die tiefe Liebe, die das Mädchen für die rote Erde, in die sie hineingeboren wurde, und für die Menschen, die von und mit dieser Erde leben, spürt, ist omnipräsent. In vielen Momenten lässt sich die tiefe Sehnsucht, zu ihnen gehören

zu wollen, und der Schmerz, den sie durch die soziale Abschottung und die alltägliche Demütigung dieser Menschen fühlt, auf eindringliche Weise nachempfinden. Figueredo nimmt dem*der Leser*in die Illusion eines sanfteren portugiesischen Kolonialismus.

Mit der Nelkenrevolution und der Unabhängigkeit Mosambiks, die von großer Brutalität von Seiten der mosambikanischen

Bevölkerung gegenüber den ehemaligen Weißen Machthabern begleitet wurde, wird das junge Mädchen Mitte der 70er Jahre nach Portugal zur

zurückgebliebenen Familie geschickt. Als retornada begegnen ihr in dem fremden Land Sexismus und Unrecht. Sie wächst in der ärmlichen Provinz Portugals heran und wird zu der gebildeten und reflektierten Frau, die den Mut besitzt, dieses persönliche Werk zu schreiben. Das vor zehn Jahren in Portugal erschienene Buch löste viele hitzige aber dringend notwendige Debatten zu Rassismus und einem verklärten portugiesischen Kolonialismus in Afrika aus und ist nun auch in deutscher Sprache erschienen. Es liefert einen wichtigen Beitrag zum dunklen Kapitel afrikanischer und portugiesischer Geschichte.

*Anmerkung der Redaktion: Aus rassismuskritischen Gründen haben wir beschlossen das Wort in dem Zitat zu zensieren um es nicht weiter zu reproduzieren. Im übersetzten Buch ist es jedoch stets ausgeschrieben.

 

Dana Elena Harms


Laurentino Gomes - Escravidão Volume I: Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi

A escravidão e o seu trágico legado permanecem como uma questão central na sociedade brasileira, mas que, lamentavelmente, dá mostras nítidas de que não foi devidamente enfrentada. O racismo, por exemplo, tem raízes profundas no Brasil e se manifesta no cotidiano de forma perversa. O país foi o último a abolir oficialmente a escravidão no continente americano - em 1888 - e é a segunda nação com a maior população negra no mundo, ficando atrás da Nigéria. 

Importante contribuição para o debate sobre a escravidão é apresentada pelo jornalista Laurentino Gomes com a publicação de “Escravidão –Volume I: Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares”, primeiro livro de uma trilogia prevista para ser completada em 2020 e 2021. O primeiro volume traz registros de um período de 250 anos da escravidão, iniciado no primeiro leilão de escravos, realizado em 1444, em Portugal, até a morte de Zumbi dos Palmares, no Brasil, em 1695. 

Ao longo de todo o livro, o leitor se depara com uma ampla pesquisa bibliográfica internacional e também com os desafios enfrentados pelo autor ao checar os registros da história por meio das versões oficiais, dos personagens lendários, das estórias e dos limites impostos pelos dados obtidos através da oralidade. O quebra-cabeça desse período tenebroso da humanidade vai se revelando de maneira tal que o estômago chega a revirar e, por muitos momentos, uma pausa na leitura se torna imperativa.

O livro de Gomes em nada lembra a versão oficial ensinada até os dias atuais em muitas escolas brasileiras, quando a escravidão é abordada de forma naturalizada e diluída como apenas mais uma parte do processo do “descobrimento do Brasil”. A dimensão da tragédia humana provocada pelo comércio de gente é escancarada na publicação, que traz detalhes de como os cativos eram capturados, armazenados, aviltados, torturados e tratados como mercadoria. Também ficam expostas, em torno do tráfico negreiro, as disputas geopolíticas dos impérios da época e também o modelo econômico do negócio que gerou para alguns indivíduos e países uma quantidade exorbitante de riquezas.

A leitura provoca uma tensão, amenizada apenas em decorrência do estilo do texto do autor, que é leve e fluído. A narrativa articula dados, fatos históricos e personagens, facilitando assim a absorção do extenso conteúdo, especialmente, para o leitor comum. Depurando dados, Gomes informa que foram embarcados nos navios negreiros no continente Africano rumo à América cerca de 12,5 milhões de cativos, entre os anos de 1500 e 1867. Na travessia do Atlântico, morreram nesse período em torno de 1,8 milhão de pessoas escravizadas. Os dados revelam que “durante mais de três séculos e meio, o Atlântico foi um grande cemitério de escravos”. Como os corpos eram lançados ao mar, há registros

de que tal prática chegou a alterar a rota dos tubarões, que seguiam as grandes embarcações à espera dos cadáveres que eram devorados tão logo fossem jogados sobre as ondas. As regiões mais afetadas do continente africano foram a África Ocidental (entre Gana e Nigéria) e a África Central (área que se estende entre o Gabão até o sul de Angola). De acordo com Gomes, “essas duas áreas responderam por quase 80% do

total do comércio de cativos no Atlântico. O Brasil, sozinho, recebeu 4,9 milhões de cativos, entre 1500 e 1850”.

A leitura torna mais evidente e nada romantizada a forma sistemática como o negócio em torno da escravidão entrelaçava os mais diversos interesses. Os protagonistas do tráfico negreiro eram encontrados nas monarquias europeias, nos reinos africanos, nas instituições religiosas e entre comerciantes dos mais variados ramos. Ao relatar a forma como cada um desses atores defendiam seus interesses, Gomes traz à luz as profundas incoerências de indivíduos e instituições. No caso da igreja, por exemplo, chama a atenção os relatos pormenorizados em que a missão evangelizadora para “salvar almas” caminha intimamente ligada à obtenção de lucros pela compra e venda dos mesmos seres humanos a quem se pretendia salvar.

Uma possível passividade dos cativos diante da escravidão também é descontruída. Muitas tribos, estados e reinos africanos resistiram às violentas investidas de portugueses, ingleses, holandeses, espanhóis, brasileiros e, mesmo, de líderes e comerciantes africanos. Houve guerra,

luta, resistência, fugas, ataques, emboscadas e sangue derramado de lado a lado. Duas personagens alçadas pela história ao posto de “lendas” dessa resistência ganham capítulos específicos: Jinga, a rainha de Mutamba, na África; e Zumbi dos Palmares, no Brasil.

Ao ler “Escravidão” é impossível não se angustiar profundamente. Sua leitura também é uma oportunidade para se construir uma visão crítica sobre a escravidão, prática ainda hoje encontrada - com outras roupagens - em muitos países.

 

Raquel Novais